domingo, 21 de setembro de 2008
Conservação da Substância
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terça-feira, 9 de setembro de 2008
Problemas com a Matemática? (II)
Não há idade fixa, rígida, para conservar esta noção, mas as crianças a conservam por volta dos 6/7/8 anos. Você pode imaginar como uma criança que responde como a do primeiro vídeo lida com os números e operações matemáticas? Os algarismos não representam para ela o conjunto daquela quantidade, as quantidades mudam conforme as aparências. Muitas escolas ignoram o nível de desenvolvimento das crianças e lidam com elas partindo do pressuposto que todas são "conservadoras", ou pensam como os adultos. Isso não significa que a escola deve esperar a criança "amadurecer", há atividades que levam à conservação, como a classificação, a ordenação, a seriação e a correspondência. Estas atividades são fundamentais na Educação Infantil, por exemplo, que "perde" um tempo enorme ensinando a criança a "contar".
Este é apenas um de mais de uma centena de testes desenvolvidos por Piaget e sua equipe. Quis apenas ilustrar como uma dificuldade em aprender a matemática pode estar ligada a um "atraso" no nível de desenvolvimento, às vezes pequeno e fácil de resolver se estimulado. Coloquei atraso entre aspas porque, como disse, não há idade fixa para cada conservação. Se a escola identificasse o nível de desenvolvimento das crianças e trabalhasse a partir daí, não haveria "atraso" e as dificuldades e consequentes barreiras seriam menores. Cabe ressaltar aqui que a menina do primeiro vídeo não está de modo algum "atrasada", ela pensa diferente da menina do segundo vídeo, que neste caso é visivelmente mais velha. Crianças da mesma idade e de uma mesma turma podem, no entanto, apresentar níveis diferentes de conservação. É nestes casos que uma dificuldade no aprendizado da matemática pode se configurar.
Sugestão de leitura sobre o tema: A Criança e o Número - Constance Kamii
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sábado, 16 de agosto de 2008
Problemas com a Matemática?

Muitas crianças “vão bem” nas primeiras séries do ensino fundamental e progressivamente passam a ter dificuldade e/ou criam algumas barreiras em relação à Matemática. Esta matéria acaba se tornando o grande "bicho papão" da escola.
Isso pode acontecer porque os conteúdos vão se tornando cada vez mais abstratos, enquanto a criança ainda pensa de uma maneira concreta.
Neste caso é preciso identificar em que estágio, do ponto de vista do desenvolvimento, a criança se encontra. Às vezes um pequeno atraso faz com que as crianças não estejam "prontas" para compreender determinados conteúdos (frações e divisão, por exemplo, são conteúdos campeões no fracasso das crianças, por exigirem um alto grau de abstração). Um psicopedagogo(a) pode fazer esta avaliação.
A forma de ensinar também pode contribuir (e muito) para o aumento da dificuldade. Geralmente o ensino é baseado em regras e algoritmos (como decorar a tabuada, começar uma conta da direita para a esquerda, usar o "vai um" ou “pedir emprestado”, "corta os zeros quando divide por 10", “multiplicar o de cima pelo de baixo”, etc.) A criança decora estes algoritmos ou conjuntos de pequenas regras e procedimentos, sem entendê-los. Normalmente uma única maneira de resolução é aceita, seja nos cálculos ou nos problemas, a criança não pensa sobre os problemas, acaba tentando "adivinhar" qual conta usar e encaixar os algoritmos que decorou.
Ao contrário desta maneira de ser ensinada, a Matemática é viva, está presente o tempo todo em nosso cotidiano. Quando vamos ao supermercado, por exemplo, não estruturamos uma conta como aprendemos na escola, usamos cálculo mental, fazemos aproximações, compomos e decompomos os números, etc.
Penso que uma maneira de ajudar as crianças que têm dificuldade é usar a matemática no dia-a-dia, tentar fazer com que elas entendam a matemática, e não apenas a decorem. Os pais podem ajudar fazendo perguntas às crianças, questionando-as, colocando-as para pensar. Isso pode ser feito de maneira lúdica, durante uma receita de bolo, organizando os brinquedos do quarto, guardando as compras e classificando-as, no caminho de casa à escola, mudando os móveis de lugar, “medindo” os objetos, comparando-os, etc. Faça seu filho participar dos problemas da família e você estará trabalhando matemática todo o tempo!
Aulas de reforço ou recuperação tendem a amenizar o problema, mas não atacam diretamente o foco, seja ele um atraso no nível de desenvolvimento, a maneira da escola ensinar (pois tendem a ser uma repetição desta, nos mesmos moldes), ou ainda uma combinação dos dois fatores (o que é mais comum).
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sábado, 2 de agosto de 2008
A Arte de Contar Histórias II

A partir da postagem anterior senti necessidade de escrever também algumas dicas, com base na minha experiência e no conhecimento da teoria de Jean Piaget.
Quem já contou história para crianças de diferentes faixas etárias e adolescentes percebe que há grandes diferenças, a começar pelo tempo de concentração. Conhecendo os níveis de desenvolvimento segundo Piaget, podemos entender melhor estas diferenças e adaptar nossa maneira de contar as histórias para melhor atingir o “público”. Para isto dividi as “dicas” por faixa etária, como um parâmetro, mas elas são absolutamente flexíveis.
Crianças de
As crianças menores de 2 anos, dificilmente se concentrarão nas histórias, mesmo que seja uma história super interessante, contada por um excelente contador de histórias. Isto porque elas estão centradas mais na ação do que na representação (e toda história é uma representação do real) Desta forma as histórias para esta fase deverão ser cheias de ação, de preferência que o contador de história imite não apenas a voz, mas os atos dos personagens e convide as crianças a fazer o mesmo.
Não há a menor necessidade de seqüência lógica da história, por incrível que pareça para nós adultos... Não apenas pelo tempo de concentração que dura aproximadamente 5 minutos, mas pelo próprio fato dela não estar interessada na história, mas nas ações, como já foi dito. Assim, uma história pode começar ou terminar em qualquer página do livro. Pode-se inclusive contar uma história com apenas uma página. Algumas pessoas, percebendo o desinteresse das crianças desta fase em ouvir a história até o fim, começam a contar a história mais rápido, para conseguirem concluí-la logo. Esta necessidade de chegar ao final da história é uma necessidade do adulto, não da criança.
As ilustrações da história devem ser coloridas, mas simples, sem muita “poluição”. Os livros de pano e de banho são ótimos, pois elas não se contentam em “ver” as imagens. A criança desta fase conhece o mundo através da boca e das mãos.
É importante trabalhar também a centração e discentração da atenção nas figuras, através da mudança de página, ou de várias figuras em uma mesma página.
Crianças de
Esta é uma fase deliciosa para contar histórias, pois as crianças realmente acreditam nas histórias (diferente do faz de conta). Muitas podem inclusive ficar com medo dos personagens. Este medo é absolutamente normal. Não se deve evitar contar histórias de bruxa ou lobisomem por isso. Alguns adultos, no entanto, aproveitam este medo e o intensificam quando usam os personagens das histórias para ameaçar as crianças (por exemplo, o lobo pega criança que não se comporta, que não obedece...) Isto sim é muito ruim para o desenvolvimento das crianças.
As histórias vão ganhando paulatinamente seqüência lógica (início, meio e fim), mas a ação ainda é fundamental. Todas as dicas dadas por Lúcia Fidalgo na postagem anterior podem ser utilizadas nesta fase.
Crianças de 4/5 a 7/8 anos
Nesta fase a criança vai saindo do simbolismo onde tudo tem vida e a criança acredita nas histórias e vai entrando no faz de conta (eu sei que as coisas não falam, mas faz-de-conta que elas falam).
Há nesta fase um interesse pela língua escrita. A criança quer saber o que está escrito no livro, quer fazer a correspondência da palavra ouvida com a escrita, por isso quer que a gente conte igualzinho. Podemos, além de contar as histórias, ler para ela, apontando inclusive com o dedo, mas mantendo a mudança de voz nas falas dos personagens.
As crianças de
A partir dos 7/8 anos
A partir daí vale tudo! Ler, contar, dramatizar as histórias! Explorar todos os sentidos, como disse Lúcia Fidalgo no texto da postagem anterior.
Muitas pessoas acham que as histórias infantis não servem mais para esta faixa etária. Um engano! As mesmas histórias podem ser lidas em momentos diferentes do desenvolvimento, a cada leitura percebem-se dimensões que antes não eram percebidas, como a moral, as figuras de linguagem, a ironia, etc.
É uma pena que muitos pais e professores vão deixando de contar histórias na mesma proporção que as crianças vão crescendo... E depois ainda se queixam dos adolescentes não gostarem de ler... Como se história fosse coisa só de criança... se fosse assim não gostaríamos tanto de cinema, pois o que é o cinema se não uma forma de contar histórias?
quarta-feira, 27 de junho de 2007
Jovens violentos: Coação x Cooperação
A ética e a moral vêm sendo amplamente discutidas nos dias atuais. Desvio de verbas, roubo, suborno, corrupção, mentiras e escândalos assolam nossa política. Em meio a tudo isso, jovens de diferentes classes sociais, queimam um ser humano vivo, como aconteceu em Brasília há alguns anos atrás, e, mais recentemente, incendeiam ônibus com pessoas dentro, arrastam uma criança pendurada pelo cinto de segurança até sua morte, espancam uma empregada doméstica (não que sua profissão seja relevante). O que os leva a agir desta forma? Como educar nesta sociedade onde a violência se banaliza a cada dia pela impunidade e pela freqüência com que invade nossas casas através dos telejornais?
Para Piaget existem duas formas de relação social: a coação e a cooperação. A coação é a relação entre indivíduos na qual intervém um elemento de autoridade ou prestígio, representando um baixo nível de socialização, uma vez que indivíduos permanecem centrados em seu ponto de vista, seja o de quem “manda” ou impõe uma verdade como absoluta, seja o de quem obedece ou aceita sem uma visão mais crítica. A cooperação, por sua vez, caracteriza-se pela igualdade, discussão, troca de pontos de vista e controle mútuo.
As crianças pequenas não percebem as leis (anomia), sejam elas leis naturais – não se protegem dos perigos como o fogo, por exemplo – ou normas sociais – como devolver o brinquedo do amigo. Os pais e a sociedade são obrigados a impor-lhes estas leis para protegê-las e permitir o convívio com as demais pessoas, por isso a coação é o tipo de relação social dominante na infância (heteronomia). À medida que cresce, esta relação deve ser paulatinamente substituída pela cooperação. Quando as crianças estão jogando sem a interferência do adulto, estão se relacionando entre iguais, sem a figura de autoridade ou prestígio, por isto o jogo é tão importante para o desenvolvimento da moral. Aos poucos a criança vai compreendendo as leis naturais e respeitando as leis sociais. O indivíduo plenamente desenvolvido (autonomia) é capaz de respeitar as normas sem necessidade de coação porque compreende que seu direito termina onde começa o do outro. A liberdade, o amor, o respeito mútuo dependem, portanto, da cooperação. Logo, não é possível discutir ética e cidadania sem pensar em cooperação.
Desenvolver a autonomia é um processo longo e trabalhoso, mas recompensador, além de ser o único caminho para uma sociedade menos violenta, mais justa e democrática. É preciso impor regras e limites às crianças, acompanhar seu desenvolvimento, procurando saber o que pensa, discutindo as relações na família, seus problemas na escola, as notícias de jornal, enfim, tudo que acontece a sua volta, para ensiná-la que faz parte de um grupo e é responsável também. Promover jogos infantis, primeiramente jogos motores e depois ir aumentando o número de regras, também é muito importante.
Não se constrói a cooperação sem passar pela coação. Alguns pais sentem-se culpados por impor determinadas regras aos filhos. É um grave erro. É necessário identificar em que fase do desenvolvimento da moral se encontra o indivíduo para poder intervir. Idade não é garantia de autonomia. Autonomia se constrói. Por isso não adianta tratar adolescentes como adultos, dar um carro, por exemplo, sem que ele tenha responsabilidade para tal, ou reduzir a maioridade penal. O jovem precisa praticar a cooperação dentro de casa. Se não respeita seus pais e irmãos, como vai respeitar os direitos humanos? Não se trata de idade cronológica, deve-se levar em conta que muitas vezes o adolescente (para não falar do adulto), ainda está na fase heterônoma. É o que acontece quando se verifica se há algum guarda de trânsito vigiando para decidir se o sinal vermelho será ultrapassado ou não, sem levar em conta se há pedestres para atravessar...
A progressão da liberdade vai da anomia (ausência de normas), passando pela heteronomia (normas impostas) para a autonomia (criação cooperativa das normas). Fazer a criança completar este trajeto é fundamental para desenvolvermos jovens que respeitem os direitos humanos e contribuam para uma sociedade ética.