quarta-feira, 27 de junho de 2007

Jovens violentos: Coação x Cooperação

Para construirmos uma sociedade mais justa e democrática é preciso que ensinemos a convivência através da cooperação.
A ética e a moral vêm sendo amplamente discutidas nos dias atuais. Desvio de verbas, roubo, suborno, corrupção, mentiras e escândalos assolam nossa política. Em meio a tudo isso, jovens de diferentes classes sociais, queimam um ser humano vivo, como aconteceu em Brasília há alguns anos atrás, e, mais recentemente, incendeiam ônibus com pessoas dentro, arrastam uma criança pendurada pelo cinto de segurança até sua morte, espancam uma empregada doméstica (não que sua profissão seja relevante). O que os leva a agir desta forma? Como educar nesta sociedade onde a violência se banaliza a cada dia pela impunidade e pela freqüência com que invade nossas casas através dos telejornais?
Para Piaget existem duas formas de relação social: a coação e a cooperação. A coação é a relação entre indivíduos na qual intervém um elemento de autoridade ou prestígio, representando um baixo nível de socialização, uma vez que indivíduos permanecem centrados em seu ponto de vista, seja o de quem “manda” ou impõe uma verdade como absoluta, seja o de quem obedece ou aceita sem uma visão mais crítica. A cooperação, por sua vez, caracteriza-se pela igualdade, discussão, troca de pontos de vista e controle mútuo.
As crianças pequenas não percebem as leis (anomia), sejam elas leis naturais – não se protegem dos perigos como o fogo, por exemplo – ou normas sociais – como devolver o brinquedo do amigo. Os pais e a sociedade são obrigados a impor-lhes estas leis para protegê-las e permitir o convívio com as demais pessoas, por isso a coação é o tipo de relação social dominante na infância (heteronomia). À medida que cresce, esta relação deve ser paulatinamente substituída pela cooperação. Quando as crianças estão jogando sem a interferência do adulto, estão se relacionando entre iguais, sem a figura de autoridade ou prestígio, por isto o jogo é tão importante para o desenvolvimento da moral. Aos poucos a criança vai compreendendo as leis naturais e respeitando as leis sociais. O indivíduo plenamente desenvolvido (autonomia) é capaz de respeitar as normas sem necessidade de coação porque compreende que seu direito termina onde começa o do outro. A liberdade, o amor, o respeito mútuo dependem, portanto, da cooperação. Logo, não é possível discutir ética e cidadania sem pensar em cooperação.
Desenvolver a autonomia é um processo longo e trabalhoso, mas recompensador, além de ser o único caminho para uma sociedade menos violenta, mais justa e democrática. É preciso impor regras e limites às crianças, acompanhar seu desenvolvimento, procurando saber o que pensa, discutindo as relações na família, seus problemas na escola, as notícias de jornal, enfim, tudo que acontece a sua volta, para ensiná-la que faz parte de um grupo e é responsável também. Promover jogos infantis, primeiramente jogos motores e depois ir aumentando o número de regras, também é muito importante.
Não se constrói a cooperação sem passar pela coação. Alguns pais sentem-se culpados por impor determinadas regras aos filhos. É um grave erro. É necessário identificar em que fase do desenvolvimento da moral se encontra o indivíduo para poder intervir. Idade não é garantia de autonomia. Autonomia se constrói. Por isso não adianta tratar adolescentes como adultos, dar um carro, por exemplo, sem que ele tenha responsabilidade para tal, ou reduzir a maioridade penal. O jovem precisa praticar a cooperação dentro de casa. Se não respeita seus pais e irmãos, como vai respeitar os direitos humanos? Não se trata de idade cronológica, deve-se levar em conta que muitas vezes o adolescente (para não falar do adulto), ainda está na fase heterônoma. É o que acontece quando se verifica se há algum guarda de trânsito vigiando para decidir se o sinal vermelho será ultrapassado ou não, sem levar em conta se há pedestres para atravessar...
A progressão da liberdade vai da anomia (ausência de normas), passando pela heteronomia (normas impostas) para a autonomia (criação cooperativa das normas). Fazer a criança completar este trajeto é fundamental para desenvolvermos jovens que respeitem os direitos humanos e contribuam para uma sociedade ética.

3 comentários:

Ana disse...

Muito interessante, Andrea. O mundo externo está realmente doido. Mas o que fazer quando é dentro de casa? Por exemplo, uma criança de nove anos que tem os pais separados, pela traição do pai? Quais os valores esta criança terá? Como a mãe, que está sofrendo muito, deve agir numa situação desta?

Andrea Garcez disse...

Ana,
Realmente não dá para falar de ética e moral se os próprios pais mentem para as crianças, não se respeitam ou não as respeitam. No caso de uma separação, com traição, a situação fica mesmo muito complexa. Difícil de dizer o que fazer pois uma série de fatores variam muito, como a idade dos filhos, a relação que eles têm com o pai e com a mãe, o nível de diálogo, etc. Sem falar que cada caso é um caso.

Andrea Garcez disse...

ups, quis dizer "uma série de fatores varia muito"