sábado, 16 de maio de 2009

Bebê leva 20 mordidas na Barra

Esta é a manchete da notícia que foi publicada no último sábado, dia 9 de maio, no Jornal o Globo. A matéria causa indignação, tanto pela foto chocante da criança com as “marquinhas”, como pela maneira desrespeitosa como foi escrita. Na minha opinião, a maneira como a matéria foi escrita tira completamente a responsabilidade da escola, colocando-a sobre a criança que deu as mordidas e sua família.
Acima da manhcete vemos o título "ataque" e a jornalista se refere às duas crianças, de um ano e meio e dois anos, como “a vítima” e “o agressor”, demonstrando não ter nenhum conhecimento sobre o universo infantil. Uma criança de dois anos morde por diferentes motivos. Segundo Piaget, por volta desta idade, seu ponto de vista ainda é totalmente centrado em si mesma, o que significa que ela não se coloca no lugar do outro e muitas vezes não vê o outro como um outro, com desejos, dores, anseios, necessidades, etc. Mesmo que se tratasse de um “comportamento agressivo”, não há dados suficientes para julgarmos. É necessário saber se a(s) mordida(s) já aconteceram outras vezes, com que freqüência, em que circunstâncias, se localizada (sempre em uma única criança) ou não, como as mordidas são tratadas pela família,etc. às vezes pode ser apenas experimentação, uma vez que o primeiro espaço que a criança organiza é a boca e ela conhece o mundo levando os objetos a ela. São muitos e muito complexos os fatores que levam à mordida.
Não discordo totalmente do que diz a psicóloga Maria Luiza B. Pereira de Sá, citada na reportagem, não sabemos o contexto de sua fala, mas recortada e colada ali, naquela parte da reportagem, sua declaração reforça a idéia de que a criança que deu a mordida e sua família são os culpados pela situação.
Na versão online (resumida para não assinantes do jornal) alguns comentários culpabilizam a criança que mordeu, julgando-a agressiva ou mesmo sugerindo sua “eliminação”.
Ao ler a reportagem me coloco no lugar dos pais da menina que levou as mordidas. Imagine deixar a coisa mais preciosa de sua vida sã e salva em um lugar de confiança e depois buscá-la toda machucada... Quem é mãe sabe que dói ver seu filho assim.
Mas não pude deixar de me colocar também no lugar dos pais da criança que mordeu. Quem já teve filhos desta idade e que passou pela fase das “mordidas” sabe o quanto é constrangedor e difícil. Dá uma inevitável sensação de culpa e ao mesmo tempo impotência, pois o que os pais podem fazer, longe da situação? Longe do contexto onde as mordidas ocorrem? Colocar a criança de castigo? Isto não tem a menor funcionalidade para uma criança desta idade que não vai nem entender porque você, que não estava na hora, duas ou três horas depois a está punindo...
A conclusão que chego é que estas situações podem e devem ser evitadas. (as vezes é difícil evitar uma mordida, mas 20!)
Os professores não podem fazer xixi? Não. Nessa idade, não sem que outro adulto o cubra para olhar as crianças. É inadmissível. Fico pensando quanto tempo a professora não demorou. Que a primeira mordida tenha sido dada com a criança dormindo, tudo bem, mas acho difícil que o mesmo tenha se sucedido com as outras 19. Será que esta criança não chorou? Não gritou? Não havia outros adultos por perto?
Repudio o descaso com que as crianças foram tratadas e repudio a maneira como a reportagem foi escrita.

Um comentário:

LILIANE disse...

Andrea,
Obrigada pelo nosso papo hoje e parabéns pelo blog. É muitov interessante e bem feito.
Beijos
Lili :)