terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Comentários Infelizes I
Meu filho tem olhos claros e o cabelo loiro, bem liso. Por onde passa chama a atenção. Isto deixaria qualquer mãe orgulhosa, afinal todos conhecem a fábula da coruja e não sou muito diferente , mas confesso que isto está me incomodando um pouco.
Recentemente, em uma casa de festas infantis, a animadora chamou a atenção, de crianças e adultos, através do microfone, ressaltando a beleza do seu cabelo. Ela fez uma brincadeira aparentemente inofensiva, autodepreciando seu próprio cabelo, de "escova marroquina",
Ele já sabe que seu cabelo é valorizado socialmente. Outro dia, ao pentear-se em frente ao espelho, declarou: mãe, eu sou bonito porque sou "loilo", né? (ele tem quatro anos e só a pouco tempo consegue pronunciar o r brando) e ainda: na minha turma só eu e o Gabriel somos "loilinhos".
Gente, parece insignificante, mas é grave. Por traz de pequenos comentários estamos construíndo com as futuras gerações os padrões de beleza, a auto-estima deles. Uma criança não precisa escutar que seu cabelo é feio, mas ao escutar por onde passa, na escola, na festinha, no salão, na família, no supermercado, etc., que o cabelo do loirinho é lindo, está incorporando a mensagem que seu cabelo, que não é loiro, é feio. Isto na melhor das hipóteses, porque muitas vezes a criança escuta, como eu já escutei uma mãe se referindo ao seu filho, que tem o cabelo ruim, ou "não muito bom".
Meu marido tem o cabelo negro e cacheado. A velha piada de que meu filho "é igualzinho ao pai", ou que é filho do padeiro, não tem mais graça. o preconceito é muito forte na nossa sociedade. E os comentáros sobre os cabelos das crianças são só um exemplo disso. Precisamos refletir sobre o que está sendo dito (e o que não está sendo dito) para nossas crianças.
Por isso inaugurei este espaço. Pretendo escrever outras postagens sobre comentários que os adultos fazem para ou na frente das crianças (isto sem falar que muitos adultos falam sobre as crianças, na frente delas como se elas não estivessem presentes).
Quem tiver algum "comentário infeliz" para ser discutido ou alguma sugestão pode escrever aqui ou me mandar um e-mail.
Abraços,
Andrea Garcez
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3 comentários:
Ola.
Tudo bem? Amei o seu site, estou cursando 1º ano de pedagogia e achei o seu site muito interessante e poderá ajudar-me também futuramente. Já trabalho como auxiliar e é dificil mesmo educar as crianças, mas sou apaixonada por elas e por ensina-las (rs).
Beijos.
Até logo, tenha um otimo final de semana.
Carina.
Olá! Sou estudante do 6º semestre de pedagogia e tenho uma filha de 4 anos e outra de 3 meses. Meu companheiro é gordinho (120kg) eu sou magrinha (50kg), o cabelo do meu companheiro é liso, grosso, típico de descendentes de japoneses, e eu apesar de ter a mesma descendencia, tenho o cabelo ondulado. Todos comentam como minha filha, Thais de 4 anos anos teve "sorte" de ser magrinha como a mãe e ter cabelos lisos como o pai.
Mais "comentários infelizes" surgiram quando a Isabella nasceu, porque ela tem a pele muito branquinha (cabelos lisos também), diferente da Thais que tem pele morena, que nem mesmo o inverno longo que temos aqui no Japão é capaz de clarear. As pessoas dizem que elas são filhas de pais diferentes, que uma é café e a outra é leite (para piorar, aquela que dizem "ser" o café é justamente quem não toma café porque é amargo, e eu -mãe - sempre ensinei que é uma bebida que não faz falta, pois prefiro que beba sucos,água e/ou leite (o mesmo leite que dizem ser a irmã dela). Ou seja, além da Thais ter que lidar com o nascimento da irmã, dividir atenções, carinhos, ela ainda tem que ouvir que ela é "café" (amargo) e a irmã é leite (faz bem!).
Já faz algumas semanas semanas que ao dormir ela "range" os dentes, muito forte, sem perceber vive com os dedos na boca, procurando unhas para roer. Não sou especialista, mas acredito que seja sinal de estress.
Pode ser, sim! Além disso, independente dos comentários, a chegada de uma irmãzinha é sempre um momento delicado, de mudanças, reestruturações, divisão de espaços, de atenções... Converse muito com as meninas. Aos poucos você vai mostrar para elas que, independente do café ser amargo e do leite fazer bem, a cor do café e do leite são diferentes, mas ambas são lindas! O diferente não significa pior ou melhor. Precisamos ensinar as crianças a respeitar e valorizar as diferenças.
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